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Pavilhão do Brasil da Expo Dubai 2020

RAZÃO E NATUREZA, UMA QUESTÃO ARQUITETÔNICA

Razão e Natureza correm o risco de serem termos antagônicos. A Razão surge quando a espécie humana desenvolve a capacidade cognitiva, que por sua vez a torna capaz de adquirir e exercer o conhecimento intelectual e transmiti-lo.

A Natureza é compreendida como uma entidade que se desenvolve à revelia da intervenção humana. Uma força que se materializa através de um processo com códigos próprios. Entender a relação entre Razão e Natureza é, para nós, aceitar a tensão existente, na qual a Razão busca exercer de forma heterônoma seu domínio e que, como contrapartida, recebe da Natureza respostas nem sempre positivas. Esse processo, que se iniciou há 7 mil anos A.C. com a revolução agrícola, estende-se aos dias de hoje através de artifícios cada vez mais eficientes.

Parece claro que a cada momento cresce a responsabilidade de se tornar esta relação mais harmônica. Para tanto, movimentos neste sentido vêm sendo tratados como premissas básicas para o desenvolvimento do planeta e de seus habitantes. O partido arquitetônico do Pavilhão Brasil DUBAI 2020 busca, a partir da semiótica, abordar essa relação e seus desdobramentos.

O Pavilhão se apresenta ao espectador a partir da expressividade imposta por duas caixas prismáticas atirantadas a um sistema de pórticos e envoltos por uma terceira caixa gradeada, cuja proporção monumental se contrapõe à leveza da espessura e dos vazados de sua trama.

Projetados em grande escala – 12 x 35 m e 15 x 25 m – esses blocos suspensos procuram levar o observador a perceber a presença da Razão, através do domínio técnico que os mantêm resistentes ao princípio “natural” da gravidade.

Logo à entrada, jorrando entre as juntas do piso e sob o volume suspenso, uma névoa de micropartículas de água envolve o visitante e enfatiza o aspecto flutuante dos dois grandes volumes. Esse vapor úmido faz ainda uma referência simbólica aos rios voadores da Floresta Amazônica. Do ponto de vista prático, além de refrescar o ambiente, tem a função de proporcionar uma experiência lúdica. Afinal, deixar-se envolver por uma fumaça refrescante pode ser um bom convite sensorial para adultos e crianças.

No piso, uma corrente de água se ramifica em direção a todo o pavilhão. Fechado por lâmina de vidro azul temperado e iluminado por baixo, este espelho d’água além de uma alusão aos rios brasileiros, orienta o fluxo dos visitantes. Outros dois espelhos d’água abertos localizados no térreo se conectam a estes filamentos compondo a analogia.

Com materiais de fechamento distintos, cada uma das caixas tem sua própria identidade. A primeira, tem uma roupagem opaca. Não permite um contato imediato entre a vida de fora e a de dentro. À vista do observador externo, ela instiga a curiosidade por seu simbolismo: uma caixa de Pandora. Um bloco fechado que remete ao enigmático monolito de 2001, Uma Odisséia no Espaço.
A segunda caixa, com suas fachadas de vidro e tela perfurada, permite certa permeabilidade visual. Neste caso, o volume propõe interação entre o interior e o exterior, ou seja, uma comunhão entre Razão e Natureza.

Enquanto o conceito formal da arquitetura navega entre os desafios propostos por duas forças – Razão e Natureza -, ao entrar no espaço, o visitante encontrará algumas respostas, num acolhimento que o Conhecimento concede. O fluxo assegura um percurso de experiências múltiplas. Já à entrada, o visitante poderá escolher explorar o nível térreo, com seus equipamentos de convívio e lazer, ou uma rampa que o conduzirá aos espaços expositivos.

Nestes espaços uma nova percepção é gerada. A arquitetura se apresenta de forma mais pragmática. A fluidez do percurso entre espaços abertos e fechados junto à própria expografia, busca traçar a esperada condição harmoniosa entre a Razão e a Natureza. O percurso termina no interior do volume opaco, onde a caixa de pandora se abre para a esperança.

Ano: 2018
Autor:
Juliano Nemer Caldeira Brant
Equipe: Leandro Michelena (co-autor), Guilherme groth (co-autor), José Alberto Nemer (curadoria), Carlos Fernando de Moura Delphim (curadoria), Pierre Yves Catel (museografia), Antonio Hoyuela (consultor de Sustentabilidade), Gabriela Cardia ( Arquiteta colaboradora), Marco Aurélio Gonçalves (Estrutura metálica), Marcos Vinicius lourenço (Arquiteto colaborador), Leticia Ricardo (Arquiteta colaboradora).
Localização: Dubai, Emirados Árabes

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